Luz e Sombra

Recentemente ouvi o seguinte de uma professora minha: "Mesmo que caminhemos na direção da luz, a sombra sempre nos acompanhará; basta virarmos a cabeça um pouco para trás e a veremos". Isso que ela falou imediatamente me fez pensar que, apesar de informar algo óbvio, tem grande profundidade e convida a uma reflexão interessante se nos dispusermos a isso.

Mais do que falar do aspecto físico, de que sempre que formos para uma fonte de luz a sombra virá atrás de nós, podemos aplicar essas palavras a nossas vidas, de diferentes maneiras. Primeiramente, que sombra e luz, certo e errado, são companheiros inseparáveis, que habitam muito próximos um do outro, e nós, com o livre arbítrio que temos, podemos facilmente escolher entre um e outro.

Olhar para a sombra, por uns instantes, pode nos distrair um pouco do caminho da luz, mas isso não significa necessariamente que mudaremos de direção completamente. Associando luz com "correto", "bom", e sombra com "não tão correto", "não tão bom", é necessário perceber que, mesmo que estejamos sempre fazendo o possível para caminhar para a luz, a sombra está logo ali atrás de nós, possível, basta virarmos um pouco a cabeça e suas possibilidades se abrirão para nós. Na vida, muitas vezes olhamos para a sombra e vamos em sua direção porque a luz parece nos atrapalhar, cegar. Talvez, naquele momento, nossos olhos não estejam preparados para a luz. Porém, sabemos que poderemos voltar a seguir em sua direção quando nos sentirmos aptos ou desejarmos.

O fato de a sombra existir é natural e positivo. Ela serve para que tenhamos a referência do que é a luz. Sem sobra, como saberíamos que a luz... é a luz? O fato de a sombra sempre nos acompanhar a todos também nos faz lembrar que qualquer pessoa, por mais madura, sábia, correta, boa que seja sempre traz consigo a possibilidade da sombra, ou seja, de falhar, de cometer enganos, de agir de forma não muito positiva uma vez ou outra. Isso faz com que se saiba que todos podem errar. Quem nega a sombra que o acompanha erroneamente julga-se infalível, sabe-tudo, onipotente, e está muito enganado. Talvez esteja, até, indo em direção à sombra sem saber.

Nós, como seres humanos, precisamos entender que somo falíveis, mas que podemos acertar, também. Nenhum caminho é impossível de ser mudado, nenhuma rota é impossível de ser corrigida. Dentro de nós temos o bom e o mau, o certo e o errado, conceitos que variam, claro, de pessoa para pessoa, cultura para cultura, mas basicamente têm muito em comum em todas elas. E sabemos, no íntimo, defini-los. É só ouvir o que o eu verdadeiro fala. Pode ser bom algo que só nos faz sofrer durante muito tempo, por exemplo? Mesmo que pareça confortável, seguro, será que é realmente positivo?

Sempre que paro para refletir sobre algum assunto, invariavelmente entendo que as respostas vêm em grande parte de dentro de nós mesmos. Quando não, podemos procurá-las fora, em pessoas, fontes de informação ou ambientes possíveis para tanto. Mas, em grande parte, repito, as respostas estão dentro da gente. Por isso, a importância de conhecer-se bem, ouvir-se, respeitar-se. Entendendo o que a luz traz de bom para a gente, a possibilidade de enxergar com clareza sua beleza, a satisfação de andar num caminho claro e bonito, entendendo que o caminho da sombra é escuro, duvidoso, normalmente sofrido, mas que existe como referência e algumas vezes precisamos andar por ele para voltarmos ao caminho da luz mais decididos e fortalecidos. Que ninguém pense que está totalmente livre da sombra; você pode não olhar para ela, pode não ir em sua direção, mas ela está ali, lembrando-nos que somos seres humanos como os outros que existem neste planeta, nem melhores, nem piores. A sombra lembra-nos que ir para a luz é uma escolha pessoal, positiva.

A grande meta da vida é enxergar seu próprio caminho para a luz, que é a sua luz própria. Assim, você se torna um farol para si mesmo e para os outros que estão ao seu redor, se desejarem. Ver a própria luz nos faz enxergar a do outro e valorizá-lo, assim como ver a própria sombra nos faz ter a humildade de perceber que podemos falhar e que os outros também podem, sem que isso represente uma vergonha ou culpa eterna para alguém. A luz existe para todos, em todos. É um caminho sempre possível de ser seguido e retomado, mesmo que não hoje, mas amanhã, quem sabe? Está lá para o escolhermos.

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Marcus Facciollo

Minha foto Desde 1994, vem investindo no crescimento pessoal, autoconhecimento e melhor entendimento da vida e do ser humano, seja por meio de cursos (como os da Fundação ACL) ou de (auto)análise. Desde criança, tem vocação para escrever e para o mundo das letras, área na qual é formado. Trabalha atualmente como revisor de textos e publica textos de sua autoria nas áreas de comportamento humano, relacionamentos e autoconhecimento. Lança em breve seu livro "A vida pode ser mais leve", coautoria com Sérgio Fernandes.
E-mail: marcusmf@gmail.com

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