Enxergando o bom da vida no dia a dia de altos e baixos

Existe uma rádio, aqui em São Paulo, que tem algumas inserções de notícias em sua programação, com o diferencial de que são só transmitidas boas notícias.

Coisa de alienado, alguém pode dizer. Não, é apenas um programa que passa boas informações, dentre os muitos outros programas jornalísticos que relatam boas e más notícias, geralmente com uma quedinha pela desgraça, pela crítica, pela polêmica. Ser alienado seria só ouvir o programa de boas notícias (ou um de más, como existem por aí), mas duvido que alguém não seja exposto ou procure outras fontes de informação. O importante, o diferencial, é que sabe-se que num determinado momento, num determinado veículo de comunicação, você poderá ouvir algo real que fará com que fique mais alegre e satisfeito por saber que coisas boas (também) estão acontecendo.

Tudo o que escrevi até aqui é para fazer uma analogia com a vida e com o ser humano. Quantas vezes nós, em nosso dia a dia, fazemos um "programa interno de comunicação" só com os bons acontecimentos do dia, com o reconhecimento de nossas qualidades e de tudo de bom que existe por aí?

Parece que temos tendência a focarmos mais o ruim, ao ponto de, às vezes, nem perceber o bom. Vou dar um exemplo. Vamos pensar num profissional autônomo, a quem daremos o nome de João, e num dia de sua vida. Ele acorda, vai pra rua e batem em seu carro, amassando o para-choque de leve. Depois, vai à dentista e descobre que seu tratamento ficará mais barato do que pensava. Vai almoçar num restaurante e o prato que pede demora para vir e não está bom. À tarde, perde um cliente que tinha como certo. Pouco depois, inesperadamente fecha um bom negócio. Por telefone, tem uma discussão desagradável com um parente. Mais tarde, um amigo lhe liga e eles têm uma agradável conversa, sendo que é convidado para um almoço no fim de semana na casa desse amigo.

Bem, como será que João vai pensar nesse seu dia, quando estiver se preparando para dormir? Será o dia em que bateram no seu carro, almoçou mal, perdeu um cliente e discutiu com um parente, e só? Ou pensará que seu dia teve tudo isso, mas também fechou um bom negócio, descobriu que gastará menos do que pensava com sua saúde e teve um agradável papo com um amigo, vindo de quebra um convite para um almoço no fim da semana? Se João seguir a tendência que muitas vezes temos de só enxergar os aspectos ruins e esquecer ou minimizar os positivos, terá tido um dia terrível. Irá dormir descontente, cansado, negativo, talvez sem nem vontade de acordar no dia seguinte para enfrentar mais um dia que pode ser tão ruim como o que se foi. Sua energia e seu astral caem, pode comprometer seu sono com preocupações e dissabores, acordar no dia seguinte desanimado e entrar num roteiro de cada vez mais se sentir enfraquecido, entristecido, desiludido, algo que vai miná-lo física e mentalmente e que, se continuar da mesma forma, em algum tempo vai levá-lo a um estado depressivo, ansioso, sem esperanças.

Se João olhar para o dia que se foi como um todo, mas reconhecer o que aconteceu de bom, e que foram várias coisas, isso lhe dará energia, alegria, esperança e vontade de continuar, acreditando que seu dia seguinte poderá ser melhor ainda e que as dificuldades são apenas uma parte de sua vida, mas tudo o que há de bom compensa o ruim.

Creio que está claro o ponto onde quero chegar. Mas alguém pode dizer que há dias nos quais não acontece nada de bom, só fatos e pensamentos desagradáveis. Puxa, difícil haver um dia totalmente ruim, hein? E sobre os pensamentos que você tem num dia, na verdade você que os gera, escolhe a quais se prender e dar valor. Podemos afastar os pensamento ruins que vêm à mente e substituí-los por pensamentos positivos, mesmo que sejam sonhos para o futuro (muitos sonhos a gente pode realizar, não é mesmo?).

A tendência de se amarrar ao mau da vida é algo muito humano, comum, podendo ser motivada por distorções de visão sobre si e sobre o mundo, pelo desejo de sentir-se vítima e chamar a atenção, no intuito de obter carinho de outros ou de si. Ora, podemos obter carinho e atenção pelo que temos de positivo, por tudo de bom que transmitimos, e não por pena. Uma baixa autoestima pode nos fazer crer que não temos nada de qualidades e só podemos ser bem tratados ou mesmo admirados por meio de pena ou do sofrimento pelo qual passamos. Desconfiemos se isso ocorre e procuremos melhor a autoestima, nos conhecendo melhor para nos valorizarmos e reconhecermos tudo o que somos de bom. Visões distorcidas sobre o mundo, nas quais só vê o lado negativo, visões essas muitas vezes incentivadas pelos outros, pela mídia, mostrando um monte de tragédias, precisam ser repensadas. Não precisa parar de ler ou ver o jornal na TV, mas saber que há muita coisa boa que não é mostrada, procurar se informar sobre elas.

Se a sensação é de que o mundo não é bom, não lhe dá o retorno esperado, pense primeiro se você se dá o retorno que gostaria. Conhece o que tem de bom, valoriza e põe em prática isso? Ok, o mundo tem muita coisa e pessoas nem tão legais assim, mas tem um outro lado, de aspectos e pessoas que valem a pena. Se não consegue dialogar satisfatoriamente com o mundo todo, saiba que isso é normal. Nunca se pode estabelecer relações positivas com tudo e com todos. Com quem e com o que não se pode conviver satisfatoriamente, melhor manter uma distância respeitosa. Agora, com tudo o que há de bom, falando de vida e de pessoas... valorizar, reconhecer, manter-se perto, fortalecer laços. Tudo isso só lhe fará bem, em todos os sentidos.

Portanto, proponho um exercício. Além, claro, de trabalhar em seu autoconhecimento, para sanar distorções de autoestima e de visão de si e da vida, todo dia fazer uma retrospectiva com tudo o que lhe aconteceu de bom. Muitas coisas, na hora em que acontecem, você reconhece, mas muitas não, por isso a importância desse exercício. Vale reconhecer tudo o que realmente é bom, por mais simples que pareça (sim, pois tantas vezes fazemos o contrário, damos atenção e ampliamos as pequenas coisas ruins). Se quiser, até escreva num caderno os fatos e pensamentos positivos do dia. Fazendo isso, tenho certeza de que passará a enxergar a vida com outros olhos. Sabendo que há dificuldades, mas há satisfações, e que as satisfações dão força para viver, alegria, por isso ajudam a superar obstáculos.

Faça diariamente seu "boletim do tudo de bom". Comece hoje. Isso não é ser alienado e não o afastará da realidade. Só o fará viver e ser melhor, mais fortalecido, com vontade e satisfação. A vida passa a ter outro gosto, mais rico. Como, para mim, aquele chá de maçã com canela que se toma num dia frio e de chuva e traz conforto, sensação de carinho e de alegria.

0 comentários:

Postar um comentário

Marcus Facciollo

Minha foto Desde 1994, vem investindo no crescimento pessoal, autoconhecimento e melhor entendimento da vida e do ser humano, seja por meio de cursos (como os da Fundação ACL) ou de (auto)análise. Desde criança, tem vocação para escrever e para o mundo das letras, área na qual é formado. Trabalha atualmente como revisor de textos e publica textos de sua autoria nas áreas de comportamento humano, relacionamentos e autoconhecimento. Lança em breve seu livro "A vida pode ser mais leve", coautoria com Sérgio Fernandes.
E-mail: marcusmf@gmail.com

Arquivo do blog